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ABA E AUTISMO: MUITO ALÉM DE TÉCNICAS E
DIAGNÓSTICOS
ABA AND AUTISM: FAR BEYOND TECHNIQUES AND
DIAGNOSES
Andrea Gonçalves
1
Resumo
O argo aborda a Análise do Comportamento Aplicada (ABA) no contexto do ausmo, destacando sua
relevância não apenas como um conjunto de técnicas ou protocolos diagnóscos, mas como uma
abordagem centrada no desenvolvimento integral da pessoa. Discutem-se os fundamentos teóricos da
ABA, sua aplicação em diferentes contextos — escolar, clínico e social — e a importância de considerar
aspectos individuais, culturais e emocionais do sujeito. Argumenta-se que o sucesso das intervenções
depende não apenas da implementação de estratégias comportamentais, mas também da
compreensão do ausmo como uma condição mulfacetada, em que habilidades, preferências e
experiências individuais devem orientar a práca prossional. Por m, o argo enfaza a necessidade
de uma abordagem éca, humanizada e centrada na pessoa, reforçando que ABA é uma ferramenta
de promoção da autonomia, qualidade de vida e inclusão social de pessoas com transtorno do espectro
austa.
Palavras-chave: ABA; autismo; intervenção comportamental; desenvolvimento integral; inclusão
social.
Abstract
The article addresses Applied Behavior Analysis (ABA) in the context of autism, highlighting its
relevance beyond mere techniques or diagnostic protocols, emphasizing a person-centered approach
focused on holistic development. Theoretical foundations of ABA, its applications in educational,
clinical, and social settings, and the importance of considering individual, cultural, and emotional
aspects are discussed. It is argued that the success of interventions relies not only on implementing
behavioral strategies but also on understanding autism as a multifaceted condition, where skills,
preferences, and individual experiences guide professional practice. Finally, the article underscores the
need for an ethical, humanized, and person-centered approach, reinforcing that ABA is a tool for
promoting autonomy, quality of life, and social inclusion for individuals with autism spectrum disorder.
Keywords: ABA; autism; behavioral intervention; holistic development; social inclusion.
1
Universitat de Barcelona, U.B., Espanha. E-mail: andreag.psicologia@gmail.com. hps://orcid.org/0009-0004-8002-0550
Andrea Gonçalves
EVOXIA – INTERNACIONAL JOURNAL OF SCIENTIFIC INNOVATION, Blumenau, SC, v. 1, n.1, dez. 2025.
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1 INTRODUÇÃO
A Análise do Comportamento Aplicada (ABA, do inglês Applied Behavior Analysis) é um
método científico consolidado que busca compreender e influenciar o comportamento
humano por meio de princípios testados e evidências empíricas (Cooper et al, 2022; Goyos,
2009). Originada na psicologia experimental, a ABA ganhou destaque nas últimas décadas,
principalmente em contextos clínicos voltados ao autismo, mostrando-se uma das práticas
mais eficazes no desenvolvimento de habilidades e redução de comportamentos desafiadores
(Matos; Mustaca, 2019; Vasconscelos; Muchon, 2024). No entanto, sua aplicação vai muito
além do espectro autista, abrangendo intervenções educativas, clínicas e sociais que exigem
uma compreensão profunda do comportamento humano (Rodas Valencia, 2015; Rodriguez,
2019).
Apesar de seu potencial, observa-se uma crescente oferta de cursos rápidos e
treinamentos superficiais que prometem capacitar profissionais para atuar com ABA em
pouco tempo. Tal abordagem simplista ignora a complexidade do método, que combina teoria
sólida, habilidades práticas e supervisão contínua (Rodriguez, 2019). A consequência é a
formação de profissionais despreparados, capazes de aplicar técnicas sem entender seus
fundamentos ou consequências, o que pode comprometer a eficácia das intervenções e, em
casos extremos, prejudicar o desenvolvimento e o bem-estar dos indivíduos atendidos
(Matos; Mustaca, 2019; Vasconscelos; Muchon, 2024).
Este artigo propõe uma reflexão crítica sobre a formação necessária para a prática de
ABA, destacando que o método não se limita ao tratamento do autismo e que sua aplicação
requer responsabilidade ética, conhecimento aprofundado e sensibilidade para compreender
as particularidades de cada indivíduo (Cooper et al., 2022; Goyos, 2009). Ao explorar
fundamentos teóricos, aplicações diversas e implicações éticas, busca-se oferecer aos leitores
uma visão ampla e consciente da ABA, incentivando práticas profissionais que vão além da
execução mecânica de técnicas, e que reconhecem a riqueza do comportamento humano em
diferentes contextos (Rodas Valencia, 2015; Rodriguez, 2019).
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2 O QUE É ABA E SEUS FUNDAMENTOS
A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) constitui-se como uma ciência aplicada
derivada da Análise Experimental do Comportamento, cujo marco inicial está nos trabalhos
de B. F. Skinner sobre o comportamento operante, publicado ainda nas décadas de 1930 e
1940. Skinner contribuiu para a formulação de conceitos fundamentais, como reforço,
extinção, controle de estímulos e contingências de reforçamento, que se tornaram a base da
prática analítico-comportamental (Skinner, 1953/2003). Posteriormente, Ole Ivar Lovaas
(psicólogo, pesquisador e professor norueguês, radicado nos Estados Unidos) destacou-se na
aplicação clínica da ABA, sobretudo com crianças diagnosticadas com autismo, ao demonstrar
em seus estudos pioneiros que intervenções intensivas e sistematizadas poderiam promover
ganhos significativos de linguagem, habilidades cognitivas e sociais (Lovaas, 1987; Matos;
Mustaca, 2019). Lovaas é notório por ter sido um dos primeiros pesquisadores a modicar
comportamentos de crianças austas ulizando a Análise do comportamento aplicada. Esse
marco histórico consolidaram a ABA como uma prática científica, respaldada por dados
empíricos e replicáveis, que hoje se estende a múltiplos contextos.
Entre os conceitos centrais da ABA, destacam-se os princípios do reforço, da análise
funcional e das contingências de comportamento. O reforço positivo corresponde à
apresentação de um estímulo que aumenta a probabilidade de um comportamento ocorrer
novamente, enquanto o reforço negativo se refere à retirada de um estímulo aversivo após a
emissão de uma resposta, também aumentando sua frequência (Rodas Valencia, 2015; Goyos,
2009). Ambos os processos são fundamentais na compreensão da aprendizagem e constituem
ferramentas poderosas na modificação comportamental. A análise funcional, por sua vez,
permite identificar as relações entre antecedentes, respostas e consequências, favorecendo a
compreensão da função que um comportamento desempenha no repertório do indivíduo e
orientando a elaboração de planos de intervenção individualizados (Silva, Pereira, 2018;
Vasconscelos; Muchon, 2024). Nesse sentido, o enfoque vai além da simples descrição de
comportamentos, buscando compreender os determinantes ambientais e contextuais que os
mantêm.
A aplicação da ABA pode ser diferenciada entre contextos clínicos e contextos
educativos, por exemplo. No âmbito clínico, é amplamente utilizada para intervenção em
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indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA), atraso no desenvolvimento e
transtornos de comportamento, com foco em aquisição de habilidades comunicativas, sociais
e adaptativas, bem como na redução de comportamentos disruptivos (Matos; Mustaca, 2019;
Vasconscelos; Muchon, 2024). no campo educacional, a ABA contribui para o ensino
estruturado, promoção de aprendizagem acadêmica e desenvolvimento de habilidades de
autonomia, oferecendo estratégias para professores e mediadores que buscam lidar com
dificuldades de aprendizagem ou ampliar repertórios acadêmicos (Rodriguez, 2019; Cooper et
al., 2022). Em países, como por exemplo, Portugal e Brasil, estudos recentes apontam a
relevância da utilização da ABA tanto em contextos escolares inclusivos quanto na capacitação
docente para lidar com a diversidade em sala de aula (Goyos, 2009; Silva; Pereira, 2018).
A análise dos fundamentos da ABA revela que os conceitos de reforço positivo e
negativo, análise funcional e princípios do comportamento não devem ser compreendidos
apenas como definições abstratas, mas como instrumentos metodológicos de intervenção
que, quando aplicados de forma criteriosa, permitem mudanças consistentes no repertório
comportamental dos indivíduos. No caso do reforço positivo, estudos demonstram que a
introdução de estímulos agradáveis, como elogios, brinquedos ou acesso a atividades
preferidas, pode aumentar substancialmente a frequência de respostas adaptativas em
crianças com dificuldades de aprendizagem (Rodriguez, 2019; Goyos, 2009). Por outro lado, o
reforço negativo, muitas vezes mal interpretado como punição, desempenha um papel
essencial ao reduzir a exposição a estímulos aversivos, como no caso de uma criança que
aumenta a comunicação funcional para escapar de tarefas excessivamente difíceis,
substituindo comportamentos disruptivos por alternativas socialmente adequadas (Rodas
Valencia, 2015).
Os fundamentos da ABA repousam sobre uma sólida tradição científica, articulando
princípios comportamentais a diferentes contextos de aplicação. Seja no campo clínico ou no
educativo, a efetividade da ABA depende não apenas do uso de técnicas isoladas, mas da
integração de conceitos centrais, análise cuidadosa de cada caso e responsabilidade ética na
sua prática.
A análise funcional é considerada o coração da prática analítico-comportamental, pois
permite compreender as funções dos comportamentos, indo além de sua topografia. Em
contextos clínicos, essa análise possibilita identificar, por exemplo, se um comportamento de
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autoagressão está sendo mantido por atenção social, fuga de demandas ou autorreforço
sensorial. Em ambientes educativos, auxilia professores na compreensão de por que
determinados alunos apresentam comportamentos de evasão escolar ou dificuldades de
concentração, permitindo o planejamento de estratégias específicas de ensino (Silva; Pereira,
2018; Vasconscelos; Muchon, 2024). A análise funcional oferece não apenas diagnóstico
situacional, mas também delineamento de intervenções personalizadas, aumentando a
eficácia das práticas pedagógicas e clínicas.
No que se refere aos princípios do comportamento, a ABA opera a partir da
compreensão das contingências que governam a interação do indivíduo com o ambiente. O
comportamento não é visto como expressão interna ou meramente resultado de
predisposições biológicas, mas como produto da história de reforçamento e do contexto atual
em que o sujeito está inserido (Skinner, 2003).
Esse entendimento implica reconhecer que diferentes indivíduos responderão de
modo diverso às mesmas contingências, uma vez que cada repertório é moldado por
experiências únicas. Em Portugal, por exemplo, pesquisas na área educacional têm destacado
como os princípios da ABA podem auxiliar na construção de programas individualizados para
alunos com necessidades educativas especiais, promovendo maior inclusão escolar e eficácia
no ensino de habilidades acadêmicas. Estudos conduzidos por Silva Pereira destacam a
importância da intervenção precoce, do envolvimento familiar e da adaptação das estratégias
educativas às especificidades de cada aluno, especialmente no contexto de crianças com
Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) (Silva; Pereira, 2018). Além disso, a autora enfatiza
que programas individualizados baseados em ABA não apenas favorecem o desenvolvimento
de competências acadêmicas e sociais, mas também contribuem para o bem-estar e a
participação ativa das famílias, reforçando a dimensão ética e inclusiva das intervenções (Silva;
Pereira, 2018).
A ABA tem se mostrado valiosa na promoção de aprendizagens acadêmicas e sociais
em diferentes níveis de ensino. Estruturas como o ensino por tentativas discretas (Discrete
Trial Training DTT) e o ensino incidental têm sido aplicadas com sucesso em salas de aula
inclusivas, favorecendo não apenas estudantes com necessidades específicas, mas também
populações diversas que se beneficiam de estratégias baseadas em reforçamento sistemático
(Rodas Valencia, 2015). O interesse pela integração da ABA em práticas pedagógicas, o
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como um modelo exclusivo, mas como ferramenta de apoio à educação inclusiva e
diferenciada vem crescendo em vários países (Goyos, 2009).
Outra dimensão relevante diz respeito à diferenciação entre aplicações clínicas e
educativas. No campo clínico, as intervenções costumam enfatizar a redução de
comportamentos-problema e o ensino de habilidades adaptativas em populações específicas,
como indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou transtornos do
desenvolvimento. Programas baseados em ABA têm mostrado resultados expressivos na
aquisição de linguagem, aumento de interações sociais e autonomia pessoal (Lovaas, 1987;
Matos, Mustaca, 2019). em contextos educativos, a ênfase está na aprendizagem
acadêmica e comportamentos escolares, como atenção, autocontrole e resolução de
problemas. Nessas situações, a ABA oferece ferramentas práticas para professores
planejarem contingências que favoreçam o engajamento dos alunos, promovam a
aprendizagem ativa e reduzam comportamentos de evasão ou desatenção (Rodriguez, 2019;
Cooper et al, 2022).
É importante destacar que, embora clínicas e escolas apresentem demandas distintas,
ambas compartilham um elemento essencial: a necessidade de aplicação ética e
contextualizada dos princípios da ABA. Como alertam Vasconscelos e Muchon (2024), a
simples utilização de técnicas sem análise da função comportamental pode levar a práticas
mecânicas, pouco eficazes ou até prejudiciais. Dessa forma, a competência do profissional
reside não apenas no conhecimento teórico, mas na capacidade de interpretar o
comportamento em seu contexto e aplicar intervenções ajustadas às necessidades
individuais.
A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) oferece um conjunto robusto de
princípios e ferramentas que, quando empregados com rigor científico e sensibilidade ética,
podem transformar tanto práticas clínicas quanto educativas (Cooper et al., 2022; Rodriguez,
2019). O aprofundamento em seus fundamentos históricos e conceituais demonstra que se
trata de uma ciência aplicada com potencial de promover mudanças significativas no
desenvolvimento humano, exigindo, no entanto, uma formação sólida e crítica para evitar
reducionismos e distorções de sua prática (Matos; Mustaca, 2019; Vasconcelos; Muchon,
2024).
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A Análise do Comportamento Aplicada, portanto, deve ser compreendida não apenas
como um conjunto de técnicas, mas como uma ciência que integra princípios filosóficos,
teóricos e práticos. Nesse sentido, o conceito de reforçamento é um dos pilares fundamentais.
Estes princípios básicos permitem explicar uma ampla gama de comportamentos, desde
aprendizagens simples até processos complexos de interação social (Rodriguez, 2019).
Outro ponto de destaque é a análise funcional do comportamento, procedimento que busca
identificar relações entre antecedentes, respostas e consequências, constituindo o alicerce
para intervenções eficazes (Cooper et al., 2022). Essa análise vai além da descrição do
comportamento, pois permite compreender sua função no ambiente, favorecendo a
construção de planos de intervenção que respeitam a singularidade do indivíduo
(Vasconcelos; Muchon, 2024).
A distinção entre aplicações clínicas e educativas não implica uma separação rígida,
mas sim uma adaptação dos princípios da ABA aos diferentes contextos. Enquanto na clínica
a ênfase é sobre a modificação de comportamentos desadaptativos e o fortalecimento de
repertórios funcionais, no ambiente educacional a prioridade é promover condições de ensino
que favoreçam a aprendizagem significativa e o desenvolvimento de habilidades acadêmicas
e sociais (Rodas Valencia, 2015; Cooper et al., 2022).
2.1 Exemplos de Programas de ABA em Contextos Clínicos e Educativos
A aplicação prática da ABA é evidenciada em diversos programas estruturados que
demonstram eficácia comprovada em diferentes populações e contextos. No campo clínico,
um exemplo clássico é o Early Intensive Behavioral Intervention (EIBI), desenvolvido por
Lovaas (1987), destinado a crianças com Transtorno do Espectro Autista. Este programa utiliza
ensino por tentativas discretas (Discrete Trial Training DTT), modelagem, reforço positivo e
análise funcional contínua para promover habilidades de comunicação, interação social e
comportamentos adaptativos. Estudos de acompanhamento indicam que crianças
submetidas a EIBI por mais de 20 horas semanais durante períodos prolongados apresentam
ganhos significativos em QI, linguagem receptiva e expressiva, além de autonomia pessoal
(Matos; Mustaca, 2019; Vasconcelos; Muchon, 2024).
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Outro exemplo de aplicação clínica é o Programa de Treinamento de Habilidades
Sociais baseado em ABA, empregado com adolescentes e adultos com dificuldades de
interação social. O programa envolve reforço diferencial, role-playing e ensino incidental para
promover respostas socialmente adequadas em situações do cotidiano, como fazer amigos,
resolver conflitos e comunicar necessidades. Pesquisas realizadas na América Latina
evidenciam que intervenções estruturadas dessa forma resultam em aumentos significativos
de comportamentos pró-sociais e redução de comportamentos problemáticos (Rodas
Valencia, 2015; Matos, Mustaca, 2019).
No contexto educativo, programas como o TEACCH (Treatment and Education of
Autistic and Communication Handicapped Children) adaptados a princípios de ABA têm
mostrado eficácia em salas de aula inclusivas, promovendo a aprendizagem de habilidades
acadêmicas e sociais em crianças com necessidades educacionais especiais. Técnicas de
encadeamento de tarefas, reforço positivo sistemático, ensino incidental e generalização de
habilidades permitem que os alunos adquiram competências acadêmicas e comportamentais
que se mantêm em múltiplos contextos (Cooper et al., 2022; Silva; Pereira, 2018).
Além disso, a ABA tem sido aplicada em programas de ensino individualizado e
intervenção comportamental precoce em escolas. Por exemplo, o uso de sistemas de reforço
visual (como cartões de estrelas ou tabelas de recompensas) para aumentar a participação
em atividades escolares tem demonstrado resultados positivos na atenção, engajamento e
aquisição de habilidades cognitivas e sociais (Goyos, 2009; Silva; Pereira, 2018).
Em termos de supervisão e implementação, todos os programas eficazes
compartilham características essenciais: avaliação inicial detalhada, definição clara de
objetivos, monitoramento constante do progresso e adaptação de estratégias com base na
análise funcional. Essa abordagem garante que intervenções sejam individualizadas, éticas e
baseadas em evidências, minimizando riscos e maximizando resultados (Rodriguez, 2019;
Vasconcelos; Muchon, 2024).
Estudos latino-americanos demonstram que a fidelidade na aplicação de ABA é
diretamente proporcional aos resultados obtidos. Profissionais que recebem supervisão
contínua e treinamento estruturado conseguem manter altos veis de coerência nas
intervenções, aumentando a eficácia tanto em contextos clínicos quanto educativos (Matos;
Mustaca, 2019; Rodas Valencia, 2015).
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A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) se mostra uma ciência aplicada com
impacto comprovado, desde programas intensivos clínicos voltados ao desenvolvimento de
habilidades essenciais até intervenções educativas que promovem inclusão e aprendizagem
efetiva (Cooper et al., 2022; Goyos, 2009; Silva; Pereira, 2018). A combinação de teoria, prática
supervisionada e avaliação contínua garante que os programas não apenas ensinem
habilidades específicas, mas também contribuam para o desenvolvimento global e o bem-
estar dos indivíduos (Matos; Mustaca, 2019; Vasconcelos; Muchon, 2024; Rodriguez, 2019).
3 IMPLICAÇÕES ÉTICAS E RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL EM ABA
A prática da Análise do Comportamento Aplicada (ABA) exige não apenas
conhecimento técnico e teórico, mas também compromisso ético e responsabilidade
profissional. O profissional de ABA atua diretamente sobre o comportamento humano, o que
confere grande impacto sobre o desenvolvimento, a autonomia e o bem-estar dos indivíduos
atendidos. Assim, qualquer decisão mal fundamentada ou intervenção aplicada de forma
inadequada pode causar prejuízos significativos, especialmente em populações vulneráveis,
como crianças com Transtorno do Espectro Autista, pessoas com deficiências cognitivas ou
dificuldades de aprendizagem (Rodriguez, 2019; Vasconcelos; Muchon, 2024).
Um dos princípios éticos fundamentais é o respeito à dignidade e individualidade do
cliente. Intervenções devem ser planejadas considerando não apenas a eficiência do
procedimento, mas também o impacto emocional e social sobre o indivíduo, assegurando que
objetivos sejam alcançados sem coerção ou sofrimento desnecessário (Cooper et al., 2022).
Além disso, a ABA exige transparência e consentimento informado, garantindo que pais,
responsáveis ou os próprios clientes compreendam os métodos, objetivos e potenciais efeitos
da intervenção (Goyos, 2009; Matos; Mustaca, 2019).
Outro aspecto central é a fidelidade e supervisão na aplicação das técnicas.
Profissionais sem experiência ou supervisão contínua podem cometer erros na
implementação de protocolos, como reforço inadequado, análise funcional incorreta ou falha
na generalização de habilidades. A supervisão estruturada, atualização constante e adesão a
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protocolos baseados em evidências são cruciais para a eficácia e segurança das intervenções
(Rodas Valencia, 2015; Silva; Pereira, 2018).
A formação contínua e a reflexão crítica também se configuram como elementos
éticos essenciais. Um profissional de ABA deve manter-se atualizado sobre novos métodos,
pesquisas e práticas, avaliando constantemente a pertinência e os resultados de suas
intervenções. A combinação de formação teórica, prática supervisionada e atualização
científica constitui a base para decisões éticas e eficazes, prevenindo abordagens mecânicas
ou superficiais que comprometam o desenvolvimento do cliente (Rodriguez, 2019; Cooper et
al., 2022).
Em contextos educativos, a responsabilidade ética se estende à adaptação das
estratégias ABA ao ambiente escolar, garantindo inclusão, equidade e respeito às diferenças
individuais. Intervenções pedagógicas devem considerar o ritmo de aprendizagem de cada
aluno, promovendo habilidades acadêmicas e sociais sem gerar exclusão ou estigmatização
(Silva; Pereira, 2018; Goyos, 2009).
A prática ética em ABA requer que o profissional adote uma postura preventiva e
reflexiva, antecipando possíveis consequências negativas das intervenções e avaliando
constantemente a adequação das estratégias. A responsabilidade profissional não se limita à
execução correta das técnicas, mas envolve compromisso com o bem-estar do indivíduo,
aplicação criteriosa de métodos e atualização contínua, garantindo que a ABA cumpra seu
propósito de promover mudanças comportamentais significativas, sustentáveis e respeitosas
(Matos; Mustaca, 2019; Vasconcelos; Muchon, 2024).
4 PREPARAÇÃO DE PROFISSIONAIS EM ABA: RISCOS DE TREINAMENTOS
SUPERFICIAIS E A IMPORTÂNCIA DA SUPERVISÃO
A popularização da Análise do Comportamento Aplicada (ABA) trouxe consigo um
fenômeno preocupante: a crescente oferta de cursos rápidos que prometem capacitar
profissionais para atuar em contextos clínicos e educacionais de alta complexidade. Embora
possam fornecer uma introdução inicial ao tema, tais formações se mostram insuficientes
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diante da densidade teórica e prática que a ABA exige. Profissionais mal preparados tendem
a aplicar técnicas de forma mecânica, sem compreensão dos princípios subjacentes, o que
pode gerar intervenções ineficazes e, em alguns casos, provocar resultados prejudiciais ao
desenvolvimento e ao bem-estar dos indivíduos atendidos (Rodriguez, 2019; Matos; Mustaca,
2019).
A ausência de sólida formação teórica compromete a capacidade do analista de
compreender a função dos comportamentos, levando à utilização de estratégias
descontextualizadas ou inadequadas. Por exemplo, a aplicação de reforços sem análise
funcional prévia pode manter ou até intensificar comportamentos indesejados, em vez de
reduzi-los (Skinner, 1953/2003; Cooper et al., 2022). Da mesma forma, a falta de supervisão
prática coloca em risco tanto a qualidade do atendimento quanto a segurança dos pacientes,
sobretudo no caso de pessoas com Transtorno do Espectro Autista, que demandam
intervenções individualizadas e ajustadas a suas necessidades específicas (Vasconcelos;
Muchon, 2024).
Nesse sentido, torna-se evidente que a formação adequada em ABA deve integrar três
dimensões fundamentais: (1) uma base teórica sólida, que possibilite o entendimento dos
princípios e das variáveis que controlam o comportamento; (2) experiências práticas
supervisionadas, em que o estudante possa aplicar o conhecimento em contextos reais com
acompanhamento de profissionais experientes; e (3) uma postura ética, orientada pelo
compromisso de assegurar intervenções baseadas em evidências (Goyos, 2009; Rodas
Valencia, 2015).
Caminhos de capacitação mais consistentes envolvem programas de pós-graduação
lato e stricto sensu, que garantem não apenas a transmissão de conhecimento, mas também
a imersão em práticas supervisionadas e a inserção em comunidades científicas que
promovem constante atualização. Além disso, cursos reconhecidos por associações
profissionais e supervisões clínicas contínuas são estratégias que contribuem para o
desenvolvimento de competências práticas e para o fortalecimento da identidade profissional
(Cooper et al., 2022; Matos; Mustaca, 2019).
A falta de formação adequada em ABA não se restringe apenas à teoria; ela se
manifesta de forma concreta nas práticas profissionais. Intervenções conduzidas por
indivíduos sem preparo suficiente podem resultar em aplicação inadequada de reforços,
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falhas na análise funcional e generalização limitada de comportamentos aprendidos. Por
exemplo, um profissional que não compreende corretamente a função de um comportamento
de fuga pode reforçar, inadvertidamente, comportamentos de evitação em uma criança,
aumentando sua resistência a demandas educacionais ou terapêuticas (Rodriguez, 2019;
Vasconcelos; Muchon, 2024). Em contextos clínicos, tais erros podem comprometer meses de
intervenção e impactar diretamente o desenvolvimento cognitivo, social e emocional do
indivíduo (Lovaas, 1987; Matos; Mustaca, 2019).
A ausência de supervisão prática contínua representa um risco crítico. Diferentemente
de cursos rápidos, que oferecem apenas exposição teórica, programas de pós-graduação e
treinamentos reconhecidos possibilitam que o aprendiz aplique técnicas sob
acompanhamento de profissionais experientes, permitindo correções imediatas e
refinamento das habilidades (Cooper et al., 2022; Goyos, 2009). Supervisões periódicas
também favorecem a reflexão ética sobre decisões clínicas e educativas, evitando abordagens
mecânicas que desconsiderem as necessidades individuais. Estudos latino-americanos
indicam que a presença de supervisão estruturada aumenta significativamente a eficácia de
intervenções ABA, ao mesmo tempo em que reduz incidências de práticas inadequadas
(Matos; Mustaca, 2019; Rodas Valencia, 2015).
Adicionalmente, a capacitação contínua deve incluir a participação em seminários,
workshops e comunidades de prática, que promovam a troca de experiências entre
profissionais de diferentes regiões e contextos. Em diferentes países, programas de formação
estruturada, combinando teoria e prática supervisionada, têm demonstrado ser mais eficazes
do que cursos de curta duração, principalmente quando voltados para intervenções em
crianças com TEA ou indivíduos com necessidades educacionais especiais (Matos; Mustaca,
2019; Rodas Valencia, 2015). Esses estudos também destacam que profissionais formados por
programas estruturados apresentam maior competência técnica, maior fidelidade à aplicação
das intervenções e melhor capacidade de adaptação a diferentes contextos (Goyos, 2009;
Silva; Pereira, 2018).
Cursos rápidos e treinamentos superficiais podem criar a falsa sensação de
competência, mas não garantem a segurança e a eficácia das intervenções. O
desenvolvimento de habilidades em ABA exige tempo, prática supervisionada, reflexão ética
e compromisso contínuo com atualização científica. Apenas profissionais que recebem
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formação acadêmica robusta, combinada com supervisão qualificada, estão aptos a aplicar
os princípios da ABA de forma segura, eficaz e responsável, promovendo resultados positivos
no desenvolvimento de habilidades e na qualidade de vida dos indivíduos atendidos.
5 ABA ALÉM DO AUTISMO
Embora a Análise do Comportamento Aplicada (ABA) seja amplamente reconhecida
por sua eficácia no tratamento de indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA), seu
potencial vai muito além desse contexto. A ABA constitui uma abordagem científica versátil
que pode ser aplicada em diversos cenários, desde o desenvolvimento de habilidades sociais
até a modificação de comportamentos em ambientes clínicos, educativos e organizacionais.
No desenvolvimento de habilidades sociais, a ABA tem sido empregada para ensinar
comportamentos pró-sociais em crianças, adolescentes e adultos sem diagnósticos de TEA.
Técnicas como modelagem, reforço diferencial e ensino incidental permitem que indivíduos
adquiram competências de comunicação, colaboração e resolução de conflitos em contextos
escolares, familiares e comunitários (Rodas Valencia, 2015; Matos; Mustaca, 2019). Por
exemplo, programas de treinamento de habilidades sociais em escolas latino-americanas têm
promovido melhorias significativas na cooperação em sala de aula, na empatia entre pares e
na participação em atividades grupais (Silva; Pereira, 2018).
Em intervenções para dificuldades de aprendizagem, a ABA é utilizada para estruturar
o ensino de habilidades acadêmicas, desde leitura e escrita até matemática e habilidades
cognitivas complexas. Estratégias como ensino por tentativas discretas, encadeamento de
tarefas e reforço positivo sistemático permitem que alunos com diferentes perfis de
aprendizagem desenvolvam competências de forma mais eficiente (Goyos, 2009; Cooper et
al., 2022). Estudos em escolas indicam que a aplicação de princípios ABA auxilia alunos com
déficit de atenção, dificuldades de memória de trabalho e problemas de organização
acadêmica, promovendo aumento de rendimento e autonomia (Silva; Pereira, 2018).
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No contexto clínico não relacionado ao TEA, a ABA também é aplicada na modificação
de comportamentos desadaptativos, como fobias, hábitos prejudiciais, comportamentos
aditivos e dificuldades de autocontrole. Técnicas de reforço diferencial, análise funcional e
exposição graduada têm demonstrado eficácia na redução desses comportamentos,
contribuindo para a melhoria da qualidade de vida dos indivíduos (Rodriguez, 2019;
Vasconcelos; Muchon, 2024). Por exemplo, programas de intervenção comportamental em
adolescentes com comportamentos de risco demonstraram redução significativa em padrões
de agressividade e impulsividade, com ganhos concomitantes em habilidades de tomada de
decisão (Matos; Mustaca, 2019).
Além disso, a Análise do Comportamento Aplicada (ABA) tem sido aplicada em
contextos organizacionais e de treinamento profissional, com o objetivo de otimizar
desempenho, engajamento e compliance. Técnicas como análise funcional de tarefas, reforço
positivo, feedback sistemático e estabelecimento de metas comportamentais têm sido
empregadas para aumentar produtividade, reduzir erros operacionais e melhorar o clima
organizacional. Estudos em empresas latino-americanas e europeias indicam que a aplicação
de ABA em gestão de desempenho contribui para maior eficiência operacional, motivação dos
colaboradores e redução de comportamentos contraproducentes (Cooper et al., 2022; Rodas
Valencia, 2015).
A ABA demonstra-se uma ferramenta cientificamente validada e versátil, capaz de
promover mudanças comportamentais significativas em diversos contextos, não se limitando
ao tratamento do autismo. Seu uso eficaz depende de avaliação detalhada, planejamento
individualizado, aplicação baseada em evidências e supervisão qualificada, garantindo que
intervenções sejam seguras, éticas e ajustadas às necessidades específicas de cada indivíduo
ou grupo (Rodriguez, 2019; Silva; Pereira, 2018).
Vale ressaltar que a ABA tem se expandido para intervenções comunitárias e sociais,
incluindo programas de prevenção de comportamentos de risco, promoção de hábitos
saudáveis e capacitação de populações vulneráveis. Estratégias de análise funcional
combinadas com reforço contingente têm sido utilizadas para aumentar a adesão a práticas
de saúde, participação comunitária e desenvolvimento de comportamentos pró-sociais,
demonstrando que os princípios da ABA podem ser aplicados de forma ampla e flexível,
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adaptando-se a diferentes necessidades e contextos culturais (Vasconcelos; Muchon, 2024;
Matos; Mustaca, 2019).
A ABA além do autismo demonstra sua versatilidade e eficácia em múltiplos
contextos: no desenvolvimento de habilidades sociais, na intervenção em dificuldades de
aprendizagem, na modificação de comportamentos clínicos e educacionais, na otimização de
desempenho organizacional e na promoção de comportamentos socialmente desejáveis. O
sucesso dessas aplicações depende da avaliação contínua, da personalização das
intervenções, do uso de técnicas baseadas em evidências e da supervisão qualificada,
reafirmando a ABA como uma ferramenta robusta, ética e cientificamente fundamentada
(Rodriguez, 2019; Cooper et al., 2022; Silva, Pereira, 2018).
6 REFLEXÕES ÉTICAS E FILOSÓFICAS
A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) frequentemente é associada
exclusivamente ao tratamento de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). No
entanto, limitar sua aplicação a esse contexto representa uma visão restritiva e filosófica da
abordagem, que ignora sua potencialidade como método científico capaz de compreender,
prever e modificar comportamentos em diversos contextos (Cooper et al., 2022; Matos;
Mustaca, 2019). Essa percepção reducionista pode gerar práticas profissionais superficiais,
centradas apenas na execução de técnicas padronizadas, sem reflexão crítica sobre as
necessidades individuais dos clientes.
A filosofia do behaviorismo radical, que fundamenta a ABA, postula que todo
comportamento é moldado por contingências ambientais e sociais, sendo sujeito a análise,
modificação e compreensão contextualizada. Essa perspectiva exige que o profissional se
distancie de uma abordagem puramente mecanicista e abrace uma visão holística do
comportamento humano, considerando não apenas os resultados observáveis, mas também
os efeitos indiretos sobre o ambiente e a vida do indivíduo (Rodriguez, 2019).
Do ponto de vista ético e filosófico, o profissional de ABA deve ir além da simples
aplicação de procedimentos técnicos. É essencial que o analista compreenda a singularidade
do comportamento humano, reconhecendo fatores ambientais, sociais e emocionais que
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influenciam a manifestação de cada comportamento (Rodriguez, 2019). Essa compreensão
exige sensibilidade, empatia e capacidade de interpretar sinais comportamentais de forma
contextualizada, promovendo intervenções que respeitem a autonomia e dignidade do
indivíduo.
A ética profissional na ABA, portanto, não se restringe ao cumprimento de normas
técnicas; envolve a responsabilidade de compreender profundamente o impacto de cada
intervenção, avaliando consequências imediatas e a longo prazo. Por exemplo, reforçar
comportamentos acadêmicos ou sociais de forma inadequada pode gerar efeitos colaterais,
como dependência de reforços externos ou diminuição da motivação intrínseca. O analista
deve, então, desenvolver uma consciência crítica e reflexiva, aplicando princípios de forma
contextualizada, ajustando procedimentos conforme a resposta do cliente e priorizando o
bem-estar integral (Silva; Pereira, 2018; Vasconcelos; Muchon, 2024).
A responsabilidade social do profissional também merece destaque. A ABA não atua
isoladamente; suas intervenções impactam famílias, escolas, comunidades e organizações.
Portanto, o analista deve considerar a diversidade cultural, étnica e social, adaptando
estratégias de forma inclusiva e ética (Vasconcelos; Muchon, 2024). Respeitar a pluralidade
de valores, crenças e experiências dos clientes é um imperativo ético, que garante que as
mudanças comportamentais promovidas sejam funcionais, sustentáveis e socialmente
responsáveis.
Refletir sobre a prática profissional de ABA implica reconhecer que cada intervenção
tem consequências. Técnicas aplicadas de maneira mecânica ou descontextualizada podem
gerar efeitos adversos, como reforço de comportamentos indesejados, aumento da ansiedade
ou diminuição da motivação (Silva, Pereira, 2018). Assim, o analista deve assumir uma postura
crítica, avaliando constantemente os resultados das intervenções e ajustando procedimentos
com base em evidências empíricas e considerações éticas.
As reflexões éticas e filosóficas na ABA desafiam o profissional a assumir um papel
integral e humanizado, que vai além da execução mecânica de técnicas. É necessário cultivar
empatia, responsabilidade social e compreensão profunda do comportamento humano,
reconhecendo que a intervenção efetiva depende não apenas de procedimentos científicos,
mas também da sensibilidade do analista diante da diversidade de experiências humanas. Ao
expandir sua visão, o profissional contribui para uma prática mais rica, ética e eficaz, capaz de
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impactar positivamente a vida de indivíduos e comunidades (Cooper et al., 2022; Matos;
Mustaca, 2019; Rodriguez, 2019).
Outro ponto central é o respeito à diversidade. Em contextos multiculturais, o analista
encontra valores, crenças e normas sociais distintas. Uma intervenção que funcione em
determinado contexto cultural pode ser ineficaz ou até prejudicial em outro. A ABA, portanto,
requer do profissional sensibilidade cultural e empatia, garantindo que estratégias
comportamentais sejam adaptadas sem comprometer princípios éticos fundamentais. Essa
postura ética também envolve responsabilidade social, na medida em que o impacto da
intervenção se estende a famílias, instituições escolares, comunidades e organizações (Cooper
et al., 2022).
Além disso, as reflexões filosóficas em ABA incentivam uma compreensão mais ampla
do papel do profissional: não se trata apenas de “aplicar cnicas”, mas de atuar como um
agente de transformação consciente, capaz de interpretar sinais comportamentais
complexos, identificar contingências relevantes e promover mudanças significativas de forma
ética e empática. Essa perspectiva exige formação continuada, supervisão qualificada e uma
postura crítica constante, alinhando a prática profissional com valores humanos, científicos e
sociais (Matos; Mustaca, 2019; Rodriguez, 2019).
Refletir sobre a ética e a filosofia da ABA implica reconhecer que o comportamento
humano não pode ser fragmentado em respostas isoladas. Cada intervenção deve ser
concebida como parte de um sistema maior de relações, no qual o analista considera os
efeitos sobre a autonomia, autoestima e integração social do indivíduo. Assim, a prática da
ABA torna-se não apenas uma aplicação científica, mas também um compromisso ético,
filosófico e social, promovendo mudanças que respeitam a dignidade, diversidade e potencial
de cada pessoa (Cooper et al., 2022; Vasconcelos; Muchon, 2024).
7 CONCLUSÃO
A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) é um método científico robusto e
amplamente validado, capaz de compreender, prever e modificar o comportamento humano
em múltiplos contextos. Sua eficácia é resultado de décadas de pesquisa experimental,
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protocolos estruturados e aplicação sistemática de princípios comportamentais, como reforço
positivo e negativo, análise funcional, modelagem e encadeamento de tarefas (Cooper et. Al.,
2022; Matos; Mustaca, 2019). No entanto, a efetividade da ABA depende diretamente da
formação adequada do profissional, da supervisão contínua e da aplicação criteriosa e
individualizada dos procedimentos.
Embora o público e os contextos mais conhecidos da ABA estejam relacionados ao
Transtorno do Espectro Autista, é fundamental ressaltar que seu potencial vai muito além
dessa população. Intervenções baseadas em ABA podem ser aplicadas na educação, no
desenvolvimento de habilidades sociais, na modificação de comportamentos em contextos
clínicos e organizacionais e na promoção de mudanças comportamentais em comunidades
diversas. Essa amplitude evidencia a versatilidade do método e reforça a necessidade de uma
visão crítica e informada por parte do analista (Rodriguez, 2019; Vasconcelos; Muchon, 2024).
Ademais, a prática da ABA não deve se restringir à execução mecânica de técnicas. Ela
requer reflexão ética, sensibilidade e empatia, considerando as particularidades de cada
indivíduo e o impacto das intervenções sobre seu ambiente, autonomia e bem-estar. O
profissional deve assumir uma postura responsável, consciente do efeito de suas ações e do
papel social que desempenha, respeitando a diversidade e promovendo mudanças
sustentáveis e positivas (Silva; Pereira, 2018; Cooper et al., 2022).
Portanto, este artigo convida o leitor a refletir sobre a prática ética e consciente da
ABA, reconhecendo que seu valor vai além da aplicação técnica: ele reside na capacidade de
transformar vidas de maneira científica, ética e humanizada. Ao compreender o
comportamento humano em sua complexidade e ao aplicar o método com responsabilidade,
o analista de comportamento contribui não apenas para resultados eficazes, mas para a
promoção do bem-estar, autonomia e inclusão social de cada indivíduo atendido, reforçando
o caráter transformador e socialmente relevante da ABA (Matos; Mustaca, 2019; Rodriguez,
2019).
A responsabilidade social da ABA também se estende à redução de barreiras e
preconceitos que frequentemente afetam pessoas autistas ao longo da vida. O método pode
ser um agente de transformação social, promovendo inclusão educacional, oportunidades de
emprego, participação em comunidades e reconhecimento das potencialidades individuais,
contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária (Cooper et al., 2022).
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A reflexão ética que atravessa a prática da ABA reforça a importância de uma formação sólida
e contínua, supervisão qualificada e sensibilidade profissional, pois o verdadeiro valor do
método reside não apenas nos resultados imediatos, mas na promoção de vidas mais
autônomas, dignas e socialmente integradas, para crianças, adolescentes e adultos com TEA.
O convite feito a todos os profissionais é o de agir com consciência, empatia e
responsabilidade social, reconhecendo que a ABA, quando aplicada de forma ética e
abrangente, é uma poderosa ferramenta de promoção do bem-estar e da inclusão social,
impactando positivamente indivíduos e comunidades (Matos; Mustaca, 2019; Rodriguez,
2019; Vasconcelos; Muchon, 2024).
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SOBRE A AUTORA
Andrea Gonçalves é Pós-doutora em Psicologia pela Universidade de Valência, Espanha.
Doutora em Ciências da Educação pela Universitat de Barcelona, U.B., Espanha. Mestre em
Desenvolvimento Prossional par a Qualidade Educava pela Universitat de Barcelona, UB,
Espanha. Graduação em Psicologia pela Sociedade Blumenauense de Ensino Superior, IBES
SOCIESC. Diretora da Uninq University.
Recebido em 04 de outubro de 2025.
Revisado em 06 de outubro de 2025.
Aprovado em 06 de outubro de 2025.
© Associação Brasileira de Editores Científicos - ABEC
Este é um artigo de acesso aberto, licenciado de acordo com os
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e compartilhamentoconforme suas diretrizes.
Como citar este artigo: GONÇALVES, Andrea. ABA e autismo: muito além de técnicas e
diagnósticos. EVOXIA INTERNACIONAL JOURNAL OF SCIENTIFIC INNOVATION, Blumenau, SC,
v. 1, n.1, dez. 2025.
Conflitos de interesse: Em conformidade com as boas práticas de publicação científica, a autora
declara a inexistência de conflitos de interesse de natureza comercial, financeira ou associativa
que possam influenciar, de forma direta ou indireta, o conteúdo e os resultados apresentados
neste manuscrito.
Financiamento: O estudo não recebeu financiamento.